A leitura manual de processos judiciais ainda é necessária?

Com os avanços tecnológicos dos últimos anos, muitos ainda se perguntam se é necessário ler processos judiciais à mão. Ferramentas como o ChatGPT têm tido muito destaque recentemente, sendo consideradas quase panaceias por aqueles que gostariam de substituir todo o trabalho humano por modelos de inteligência artificial.

Mas a realidade não é tão simples assim. Essas IAs são muito boas para criar textos de maneira eloquente e às vezes conseguem ajudar muito na elaboração de uma peça processual, mas elas ainda têm sérios problemas de corretude na hora de obter dados específicos e detalhados.

O pesquisador americano Stephen Wolfram resume bem as dificuldades enfrentadas ao tentar usar IA para automatizar tarefas:

“Enquanto o ChatGPT é uma conquista incrível na automação de importantes tarefas humanas, nem tudo que é útil é tão ‘humano’ assim. Algumas tarefas são, na verdade, mais formais e estruturadas.”

Wolfram continua esse texto detalhando várias situações em que o ChatGPT oferece soluções convincentes, mas incorretas para questões simples. Se perguntarmos para a IA, por exemplo, quão longe Chicago está de Tóquio, ela irá escrever um lindo texto explicando que essa distância é de aproximadamente 12 mil quilômetros; um erro de quase 20% em relação à resposta real (10 mil quilômetros).

Sendo assim, uma IA de processamento de linguagem pode ser útil para resumir um processo judicial, extrair os principais argumentos utilizados, ou até encontrar possíveis inconsistências na argumentação. A grande ressalva é que ainda não podemos confiar plenamente na acurácia factual da máquina.

Na Jurimetria, por exemplo, é muito comum precisarmos criar bases de dados a partir de um certo conjunto de processos. Para isso, é necessário extrair detalhes específicos como valor da causa, nomes das partes, data da petição inicial, e assim por diante. Neste caso, não podemos confiar que um modelo de IA será capaz de obter corretamente todas as informações que precisamos; na nossa experiência, essas ferramentas frequentemente alteram números e nomes importantes sem dar a menor indicação de que isso ocorreu.

Em suma, apesar dos impressionantes resultados obtidos por modelos de inteligência artificial nos últimos anos, ainda se faz necessário ler manualmente processos judiciais, principalmente quando o objetivo é obter respostas precisas para perguntas quantitativas.

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